sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

 


Os códigos e os símbolos após a entrada em Marrocos alteram-se e tudo é diferente.
A cada passo existe algo que surpreende, quer pela positiva quer pela negativa.
A paisagem, as gentes os cartazes e anúncios das lojas. O cheiro e as cores. E o trânsito?
Apenas a palavra está escrita em árabe.
Desta forma, os primeiros quilómetros de condução são um desafio a qualquer condutor.
Só há uma estrada e nenhum cruzamento assinalável.
Apenas mar à esquerda e montes á direita, com casas onde se destacam na beira da estrada estabelecimentos comerciais e muitos câmbios-exchange.
Não se pode entrar nem sair com dirhams do país. Só a partir deste ponto poderemos trocar os nossos euros pela moeda nacional.
Nestes primeiros quilómetros de África africana apercebemo-nos, apesar do cansaço, ou então por via deste, de onde estamos.
As casas amontoam-se de forma desalinhada, cada uma delas uma promessa inacabada de habitação.
Quase todas terminam num terraço ladeado por vigas e arames já ferrugentos e tortos que servirão para outro piso, ainda que os pisos térreos estejam pintados e habitados.
Disseram-nos que o imposto sobre a habitação só é pago depois de acabado o edifício, o que nunca será evidentemente feito.
O cenário é pobre. O casario não tem fim, apenas interrompido aqui ou ali por tendas berberes, feitas de lã de camelo.
A densidade populacional e das habitações aumenta e diminui a ritmo incerto e o transporte faz-se em carripanas velhas e burros mais velhos ainda, puxando ou não carroças excessivamente carregadas .
À esquerda fica o mar, e por momentos apetece-nos parar ali mesmo para nos metermos por ele a dentro. O sol aperta e o calor parece outro, diferente, mais abafado.

É logo ali a seguir... mas esta é a verdadeira travessia entre os dois continentes, e ali à frente não há pressa, e fazem-nos notar isso.
Ao nosso lado, atrás da rede, uma procissão de marroquinos que regressam ao seu país, como se de pedintes se tratassem, exilados, refugiados?
A confusão é grande e chega até nós, ocidentais, europeus, brancos, através de sonoridades estranhas e de forma turva mas intensa.
Do lado de cá da rede existem alguns poucos marroquinos, mas esses chegam em Mercedes, BMW?s e viaturas afins.
Do lado de lá seguem apenas os que vieram de chanatas ou babushas?
Mas ainda estamos no lado Espanhol, isto ainda é Europa, e a diferença só se descobrirá após os arcos triunfais da fronteira, entrada no Reino de Marrocos.

Entrar em Marrocos, pelo menos por via terrestre, por Ceuta, é uma experiência dura.
Não vale a pena negar nem disfarçar. Entramos num mar de carros carregados muito além da sua capacidade, espadalhões conduzidos por indivíduos de ar suspeito, e mergulhamos num mar de gente ora em grande azafama ora parada no vazio, à espera de algo que ignoramos, mas todos, todos com ar duvidoso.
Onde se vêm estruturas de cimento e chapa, vemos a alfândega e onde esperávamos encontrar a alfândega, encontramos postos de controlo armados de metralhadora.
Depois de decifrar o local do posto entregamos, para ver desaparecer, os papeis, passaporte, visto, documentação da viatura, para dentro de uma casota indigna de uma portaria de vão de escada.
Resta aguardar que chamem o nosso nome e ficamos a desesperar por essa tarefa caber a um tipo que provavelmente apenas fala, e mal, árabe.
Na espera vigiamos a populaça e olhamos uns pelos outros e pelos nossos bens.
Dentro do autocarro está demasiado calor, cá fora demasiado caos.
Só queremos seguir, mas o tempo lá à frente tem outro ritmo?
Algumas janelas à frente alguém nos chama.
Os papéis aparecem carimbados. Tudo está em ordem, podemos seguir. Aliviados. Muito aliviados.
Andamos uns metros e paramos. Controlo policial, embora as fardas sejam do exército. Mostramos os papéis, espreitam com desconfiança para dentro do autocarro, comparam as caras com as fotos e verificam matrícula.
Podemos seguir. Lá ao fundo, à nossa frente, o portão do recinto fecha-se atrás de um camião. Paramos. Mais policia, repetimos tudo, sem sair do carro, mas com o motor desligado. Onde vamos?
Casablanca. Chefchouen é um destino suspeito. Têm reservas? Quanto tempo ficam, Turismo? Oui, Oui, Oui. Seguimos.Passámos. Sentimo-nos quase clandestinos.
Mas clandestinos de papel passado e muito aliviados. Estamos, agora sim em Marrocos.
Nota-se pelas placas que passaram a ter caracteres árabes em vez de letras como as conhecemos. Não há que enganar. Agora é sempre em frente.

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